F. Cleto e Pina. Com o advento das novas tecnologias, a BD também as tem experimentado, a diversos níveis. Através da leitura directa em ecrãs (área em que se têm multiplicado os scanners piratas que as editoras combatem cada vez mais ferozmente) ou tendo a Internet já como suporte original, como forma de combater as dificuldades relacionadas com a edição, o lançamento de novos autores e a distribuição dos livros.
O que, por exemplo, popularizou o formato geralmente designado como ‘italiano’ (horizontal), mais próximo das medidas dos ecrãs tradicionais. Isto, segundo alguns (saudosistas?), retira aos quadradinhos características fundamentais: a textura do papel, o cheiro da tinta, o peso físico do objecto livro, a facilidade de avançar e recuar voltando as páginas, a possibilidade de apreciar uma página inteira ou mesmo páginas duplas? Ou, indo mais longe, tornando impossível as edições de luxo e as tiragens limitadas, tão ao gosto dos coleccionadores. Do outro lado da barricada, apontam-se como vantagens a diminuição radical do espaço de arrumação dos livros impressos ou a facilidade de transporte das obras.
Com o crescendo da aposta das editoras neste formato, as ferramentas informáticas têm sido utilizadas para aproximar os quadradinhos digitais do formato original (‘virar’ das páginas) ou acrescentar-lhes algo no novo suporte (ampliação de vinhetas ou animações limitadas, os designados ‘motion comics’).
Por isso, cada vez mais é possível aceder online a excertos de obras novas, a títulos esgotados ou difíceis de encontrar e mesmo a novas edições. Gratuitamente, alugando por períodos mais ou menos limitados, por assinatura ou pagando o título desejado. Mas sempre num nível (ainda com muito de) experimental e de teste a um mercado que para já é apenas potencial. E que ainda possui muitas limitações: o aluguer não garante propriedade, uma falha de sistema pode significar a perda da ‘biblioteca’, o fecho ou mudança do site vendedor também.
Actualmente, a facilidade de acesso a leitores como o ‘iPad’, ‘Kindle’, ‘iPod’, ‘iPhone’, ‘Courier’ (e às suas muitas potencialidades) abre novas portas. Ou não, como o confirma o facto de em Junho último um dos mais importantes operadores franceses de comics digitais ter vendido apenas cinco títulos.
Mas os sinais de que o novo suporte veio para ficar (quanto mais não seja para servir a geração vindoura já ‘nascida’ a ler digitalmente) multiplicam-se, tal como as aplicações que os suportam: ‘ComiXology’, ‘iVerse’, ‘BD Touch’. Recentemente, a Marvel lançou pela primeira vez em simultâneo um comic - do ‘Homem de Ferro’ - em versão papel e digital. A DC Comics anunciou em grandes parangonas a entrada no mundo virtual; outras editoras, como as igualmente norte-americanas IDW, Dark Horse ou Aspen, dão também passos firmes nesse sentido.
Na Europa, o panorama não é muito diferente: a Soleil e os Humanoides Associèes têm já on-line o seu catálogo na ‘DigiBidi’, enquanto a Casterman, a Dupuis, a Dargaud, a Lombard e a Fluide Glacial criaram a ‘Izneo’, onde têm distribuído (também) desta forma alguns dos seus títulos mais chamativos. Questões como o preço da versão digital relativamente à de papel ou os pagamentos aos autores, são outros pontos – não pacíficos – que aguardam resolução.
in 'Jornal de Notícias'
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